Forte do Príncipe da Beira, Costa Marques,
Rondônia Maria do Carmo
Andrade
Bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco Pesquisaescolar@fundaj.gov.br
O Real Forte do
Príncipe da Beira é considerado uma das maiores obras da engenharia militar
portuguesa do período colonial, tanto pela sua edificação como pela sua
fundamental localização estratégica. O Forte está situado na margem direita do
rio Guaporé, no município de Costa Marques, estado de Rondônia, na fronteira
com a Bolívia.
O nome Real Forte do
Príncipe da Beira, ou simplesmente Forte do Príncipe da Beira como é mais
conhecido, originou-se de uma homenagem ao Príncipe herdeiro da Coroa Portuguesa,
D. José de Bragança, que tinha o título de Príncipe da Beira, título que
manteve até a morte de sua mãe, Maria I de Portugal, quando então ascendeu ao
trono com o título de Príncipe do Brasil.
A edificação do Real
Forte Príncipe da Beira, assim como a de todos os outros fortes situados do
lado oeste da linha do Tratado de Tordesilhas (acordo selado por Espanha e
Portugal, em 1494, que fixava critérios de partilha entre os dois países das
terras descobertas além-mar por Cristóvão Colombo e outros navegadores), foram
erguidas com a finalidade de demarcar e defender a nova fronteira acordada pelo
Tratado de Madrid de 1750, firmado entre D. João V de Portugal e D. Fernando VI
da Espanha, para definir os limites entre as respectivas colônias
sul-americanas, o que supostamente colocaria um final às disputas entre os dois
países. O Tratado de Madrid tinha a finalidade de substituir o de Tordesilhas
que na prática não estava mais sendo respeitado.
Os portugueses
ergueram vários tipos de fortificações, das mais imponentes e seguras até as
mais modestas e frágeis, todas situadas em pontos ou acidentes geográficos que
obedeciam a um plano de defesa estratégica da América portuguesa. D. João V
(1706-1750), preocupado com a proximidade dos espanhóis na fronteira oeste
desde 1743, determinou ações no sentido de consolidar o domínio português na
calha do rio Guaporé, tendo como objetivo a exploração de ouro na região. Para
isso criou a capitania do Mato Grosso, nomeando como seu primeiro governador e
Capitão-General, D. Antônio Rolim de Moura Tavares. Este fundou a Vila Bela da
Santíssima Trindade, às margens do rio Guaporé, que passou a ser a sede da
Capitania.
Contudo, não só os
portugueses visavam à exploração do ouro na região. Os espanhóis também
pretendiam explorar essas riquezas, e para marcar presença no local,
estabeleceram missões jesuítas ao longo do rio Guaporé e de seus afluentes,
gerando uma série de conflitos. Para garantir a soberania portuguesa na região,
foi construído, em 1769, o Fortim de Nossa Senhora da Conceição (ou Bragança)
cuja fragilidade levou os espanhóis a tentar sua conquista, só não obtendo
êxito em virtude de terem sido vítimas de diversas doenças. Posteriormente,
esse Forte seria destruído pelas águas
da enchente de 1771.
Em 1772, o então
governador da Colônia do Mato Grosso, Capitão-General Luis de Albuquerque de
Melo Pereira e Cáceres, tinha a missão de executar o plano da Coroa Portuguesa
de dominar as duas margens do rio Guaporé para manter afastados os espanhóis e
assegurar o controle total das minas do Guaporé e Tanquinhos (atual Mateguá,
Bolívia), garantindo caminho seguro pelos rios Guaporé, Mamoré e Madeira,
assegurando assim o monopólio da Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e
Maranhão.
Para execução desse
plano, em 1773, Luis de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres viajou descendo o
rio Guaporé à procura de um local na sua margem direita para construção de um
forte em substituição ao de Nossa Senhora da Conceição. Contou com o auxílio
técnico do Ajudante de Infantaria em exercício de Engenheiro, Domingos
Sambocetti, para encontrar um local que atendesse os requisitos para construção
do novo forte, que viria a ser o Forte Real do Príncipe da Beira, situando-se a
cerca de dois quilômetros da fortificação anterior (o da Conceição).
Enfrentando a censura
do Primeiro Ministro Pombal (Sebastião José de Carvalho e Melo, mais conhecido
por seu título de nobreza Marquês de Pombal) às empreitadas administrativas e
aos altos custos do empreendimento, Luis de Albuquerque acreditava que todos os
sacrifícios valeriam a pena diante da importância política da obra. Em 20 de
junho de 1776, os alicerces do novo forte receberam a pedra fundamental
registrada em ata histórica. Durante as obras de construção do forte, o
engenheiro Sambocetti morreu em decorrência da malária, sendo então substituído
pelo Capitão de Engenheiros Ricardo Franco de Almeida Serra.
O forte foi assentado
sobre a Serra dos Parecis, paralelo ao rio Guaporé. O grandioso projeto de
Sambocetti previa uma fortificação em plano quadrangular, amuralhado em pedra
de cantaria com majestoso portão na frente norte e com baluartes nos ângulos
consagrados à Nossa Senhora da Conceição, Santa Bárbara, Santo Antonio de Pádua
e São José Avelino, seguindo as normas da arquitetura militar da época,
inspirado no sistema elaborado por Vauban, arquiteto militar francês
(1633-1707). Sobre o terrapleno, há quatorze grandes edifícios de pedra lavada
ou pedra canga e argamassa, que abrigavam os quartéis da guarnição, hospital,
capela, armazéns, casa do governador, cisterna, paiol subterrâneo. A porta
principal tinha uma ponte levadiça sobre fosso seco e era protegida por revelim
(unidade de medida para superfícies agrárias que corresponde a 100 m2).
Depois de consolidada a
presença portuguesa na região, o Forte perdeu um pouco da sua função
estratégica, mas continuou como testemunho de uma época e uma sentinela naquela
parte do Brasil. Com o abandono progressivo, a vegetação tomou conta de suas
dependências ameaçando a integridade da edificação. Já no século XX, em 6 de
julho de 1913, o Forte foi visitado pelo Almirante José Carlos de Carvalho e
outras autoridades que lavraram ata de sua visita, tendo deliberado que o
monumento histórico ficaria sob a guarda do Estado de Mato Grosso até que o Governo
Federal resolvesse sobre sua administração definitiva, determinando também a
remoção de peças de artilharia e outros objetos ali ainda existentes, para o Museu Nacional do Rio de Janeiro.
Em 1914, o Marechal
Cândido Mariano da Silva Rondon (1865-1958) também visitou o Forte e ordenou a
limpeza da mata que invadia suas dependências. Porém, só em 1930, uma nova
expedição do Exército brasileiro voltou a marcar presença no local. Finalmente
em 1950, o Forte foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional, IPHAN.
Durante o Governo do General João Baptista de Figueiredo foi assinado
um Termo de Compromisso entre o Ministério da Educação, Cultura, o Ministério
do Exército e Governo de Rondônia visando à sua restauração, conservação e
utilização. Em 2009, por iniciativa do
IPHAN, foram iniciados os trabalhos arqueológicos , no interior do Forte sob a
coordenação do arqueólogo Fernando Marques, do Museu Emílio Goeldi, com
conclusão prevista para 2012. A intenção é qualificar o Forte para visitação
turística.
Recife,
29 de junho de 2012.
FONTES CONSULTADAS:
FORTE Príncipe da Beira (Costa Marques, RO). Disponível em: . Acesso
em: 18 jul. 2012.
PRÍNCIPE da Beira. Revista Trimensal do Instituto Histórico Geographico
e Ethnographico do Brasil, Rio de Janeiro, t. 48, parte 1, 1885.
NUNES, Maria de Souza. Real Forte Príncipe da Beira. Cartografia e
iconografia de Isa Adonias. Salvador: Fundação Emílio Odebrecht, 1985.
RONDÔNIA. Governo do Estado. Secretaria de Estado de Cultura, Esportes
e Turismo. Departamento de Cultura. Histórico do Real Forte Príncipe da Beira.
Porto Velho, 1983.
COMO CITAR ESTE TEXTO:
Fonte: ANDRADE, Maria do Carmo. Real Forte Príncipe da Beira. Pesquisa
Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível
em:http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/ . Acesso em: dia mês ano. Ex:
6 ago. 2009.
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